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Cerâmica sonora

Há milênios, povos nativos da América produziam instrumentos cerâmicos, como se pode ver nas produções dos Vicús, Chimú, Moche, Salinar, Huari, dentre outros do Peru e do noroeste da Argentina. As vasilhas silbadoras, peças recorrentes na cerâmica pré-colombiana, evocam uma atmosfera ritualística de transformação e circulação de fluxos de água em seu interior e de sentidos nas relações poéticas com o mundo. Trata-se de uma das grandes artes desenvolvidas pelos povos indígenas, feita com argila, água, modelagem, fogo, ideia e sentir.

MEMÓRIAS DO BARRO
 
A cerâmica corporifica um sentido de memória, provoca o devir e traduz o sentir dos encontros nas relações com mundo e tudo que nele circula. O barro fala, transforma o corpo pelos diálogos intuitivos que provoca entre a matéria e o sentir. A cerâmica altera a percepção e o estado das coisas quando recebe e doa substâncias que circulam em seus vazios. É fruto e fonte de agenciamento nas práxis artísticas. O barro é morada e lugar de passagem por onde circulam narrativas míticas atualizadas no tempo presente dos acontecimentos. No documentário a seguir, o ceramista Maneno Llinkarimachiq nos aproxima da cerâmica narrando suas histórias com as argilas, os espaços, os corpos e os encontros.  A ação do fogo transforma o barro em cerâmica, assim como a ação das coisas do mundo transforma os humanos que nunca cessam de se transmutar em novos corpos da Fábrica de suas naturezas. A narrativa pela voz de Maneno dá um ritmo de manifesto ao vídeo e nos conduz por uma América do Sul múltipla de naturezas em que o saber-fazer cerâmico é concretizado em corpo de barro e este, assim como o corpo humano, se faz de saberes em devir.


Pesquisa e Roteiro: Priscilla Araujo 
Direção: Anderson Souza

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